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A NATAÇÃO PRECISA SAIR DA UTI! CAPÍTULO 5: É CERTO CULPAR OS ATLETAS?

Infelizmente vimos muitos comentários jogando a culpa apenas nos nadadores pela falta de medalhas nos Jogos Olímpicos de Paris, sendo que alguns deles foram muito genéricos, dizendo que os atletas foram para a França só para passear, por exemplo, como se a natação brasileira só tivesse apresentado resultados ruins.

Esses comentários são justos? É certo culpar mais os atletas do que CBDA, clubes e treinadores?

Importante deixar claro que a rotina dos atletas da “ponta” não é fácil.

Alguns fazem de 10 a 12 sessões de treinos na água, de 03 a 05 sessões de preparação física, sessões de fisioterapia de acordo com a condição física de cada um e ainda arrumar tempo para sessões com nutricionistas, psicólogos, massoterapia e atender demandas de seus clubes, parceiros e patrocinadores, que precisam ser conciliadas com as responsabilidades de suas vidas pessoais.

A maioria desses atletas moram longe e deixam de participar de várias datas comemorativas de suas famílias, não vão para baladas e não viajam a lazer por meses por causa dos treinos e da participação em campeonatos.

Isso quer dizer que os atletas são intocáveis, não erram e não podem ser cobrados?

Negativo. Só queremos deixar claro que se algum atleta foi mesmo para Paris apenas para passear, ele desperdiçou vários anos de sacrifícios e investimentos, além de ter jogado fora uma oportunidade de se consolidar com uns dos grandes nomes da história da natação brasileira.

Por ser um ambiente comandado por uma maioria de pessoas que não querem profissionalizar a modalidade, os atletas sofrem com algumas situações desagradáveis que vivenciam e que muitas vezes precisam engolir para não se manterem na modalidade.

Temos como grandes exemplos dessas situações desagradáveis, fatos narrados por diversos atletas, como a priorização dada por muitos clubes para a disputa dos títulos dos campeonatos brasileiros e o título do ranking nacional de clubes, ao invés de se preocuparem também com a evolução física, mental e técnica de seus atletas, os contratos, que em sua maioria são anuais, com valores “surpresas” e não adequados a Lei Pelé, os programas de treinos desatualizados ou treinamentos em altitude realizados sem base científica alguma, que prejudicam temporadas, a falta de orientação para assuntos básicos do dia a dia e a impossibilidade de se posicionarem sobre diversos assuntos pertinentes as suas carreiras.

Precisamos deixar claro que se posicionar é uma coisa e se insurgir é outra.

Existe uma hierarquia a ser respeitada e uma conversa baseada em bons argumentos, e realizada priorizando o respeito e em ouvir a outra parte, sempre é o melhor caminho para se posicionar sobre algum assunto.

Não compactuamos com falta de educação e falta de respeito com dirigentes, treinadores e outros atletas, mesmo sabendo que muitas dessas pessoas não gostam de buscar soluções para problemas frequentes.

Não existe a preocupação em oportunizar e orientar sobre a importância do planejamento de carreira.

A carreira é curta e a maioria dos clubes se preocupa apenas em ter os atletas enquanto estão dando os resultados desejados, sem se preocuparem com os motivos que levam alguns atletas a terem oscilações de performances em algumas temporadas e também sem se preocuparem em orientar seus atletas sobre a necessidade de planejar suas carreiras, para que, dessa forma, também planejem uma transição segura quando decidirem sair do alto rendimento.

Muitos atletas acreditam que planejar a carreira é apenas focar nos resultados que precisam ser obtidos para se manterem por anos em algum clube, por exemplo, e não costumam perceber o momento ideal para finalizar ou ficam perdidos quando finalizam suas carreiras esportivas.

Planejar a carreira também envolve investir parte dos recursos financeiros recebidos e não sair torrando mais do que ganha constantemente, participar de um legado positivo para as futuras gerações da modalidade, buscar ter uma formação que permita exercer alguma profissão ou empreender no futuro…

Existe uma cultura na modalidade que ensina os atletas a se contentarem com resultados que não representam boas colocações no ranking mundial e que é aceitável treinar apenas para ser finalista A em campeonatos absolutos ou apenas conseguir uma vaga em equipe de revezamento para Campeonatos Mundiais e Jogos Olímpicos.

Isso faz com que muitos atletas não tenham como metas os índices olímpicos e, consequentemente, faz com que nossa natação seja menos competitiva e fique mais longe da possibilidade de conquistar várias medalhas em uma edição de Jogos Olímpicos.

Sonhar pequeno e sonhar grande dá o mesmo trabalho e ter grandes metas faz com que nos dediquemos a trabalhar sempre em busca do que é grandioso, fazendo com que os sacrifícios feitos diariamente durante a preparação valham a pena no fim da jornada.

Alguns não se posicionam por medo de retaliação, outros por só se incomodarem qual envolve algum assunto que atinge seus próprios umbigos e outros porque simplesmente querem ficar em cima do muro para depois tirar proveito de alguma situação no futuro.

Quantos ex-atletas que tanto reclamavam da situação da natação brasileira quando estavam na ativa você vê fazendo algo para tentar ajudar no desenvolvimento da modalidade hoje em dia?

Enquanto os atletas da modalidade seguirem passíveis a tudo, suas queixas ou sugestões realizadas em grupos privados ou em resenhas com poucos amigos nunca serão atendidas.

Por mais que os atletas tenham que conviver com vários problemas que citamos e tenham uma rotina exaustiva e complicada, eles precisam aceitar que, assim como os treinadores e dirigentes, eles também erram e também precisam fazer autocríticas.

Vemos atletas faltando em treinos para participar de sessões de fotos e entrevistas, saindo e bebendo em épocas próximas a campeonatos importantes, não tendo uma rotina alimentar e de sono adequada, não cumprindo com eficiência as sessões semanais de treinos, cometendo atos indisciplinares graves, tentando prejudicar outros atletas apenas para tentar obter “benefícios” individuais e até atletas usando problemas atuais do meio do esporte como desculpas para tentar se livrar de problemas que causou, por exemplo, enquanto culpam publicamente terceiros por não performarem dentro do que é necessário para atingir alguns objetivos almejados.

Se seguirem a risca o que é passado por todos os profissionais que escolheram para atuarem em suas preparações, se algo der errado, a culpa é dos profissionais (exceto quando algo que foge ao controle, como uma lesão ou doença, desses profissionais surge no meio do processo).

Se não confiarem no processo e procurarem atalhos ou opiniões de terceiros que não estão participando dos processos e não possuem 100% das informações necessárias para fazer uma análise completa, a culpa será totalmente dos atletas se algo der errado.

É uma escolha básica e simples de ser tomada.

Além dos atletas que levam uma vida desregrada e depois querem culpar os outros pelos seus resultados abaixo do que é necessário para performar entre os melhores do mundo, temos os atletas que mentem em seus currículos e os que “se vendem” por pouco, desvalorizando ainda mais a natação brasileira.

Atletas que mentem no currículo o próprio tempo os pune e mostra a realidade para as pessoas que acreditaram no currículo inventado. Só que mesmo assim atrapalham as carreiras de outros atletas que perdem oportunidades justamente por optarem pela honestidade em seus históricos esportivos.

Inclusive tivemos um problema grave com uma parceira, que acabou não enviando alguns produtos para a Seletiva Olímpica justamente por ter descoberto que um atleta mentiu ao informar que estava convocado para Paris, sendo que o atleta nem na lista de salvaguarda estava. Alguém sempre paga o preço pela mentira/má fé de alguém da modalidade.

Já os atletas que “se vendem” por pouco são um dos maiores problemas que a natação enfrenta hoje em dia.

Tudo bem que quem não é visto não é lembrado, só que vale a pena ter que entregar muito mais do que uma parceria realmente vale apenas para tentar gerar “likes”?

As empresas sabem mais ou menos como cada uma trabalha e ao aceitar “se vender” por pouco, acaba-se desvalorizando toda a modalidade e fazendo com que as empresas acreditem que todos os demais atletas da natação aceitarão suas propostas abusivas, sem se preocuparem com os títulos conquistados e a precificação correta de cada atleta.

Os atletas são o “produto final” da natação brasileira.

São eles que aparecem e qualquer problema com eles, seja de queda de performance, indisciplina e ou postura incorreta uma entrevista, atinge toda a modalidade.

Por isso é preciso ter uma maior atenção com eles, buscando orientar mais e culpar menos, exceto nos casos onde o problema é causado por uma ação inaceitável e evitável.

Precisamos dar atenção e ouvir nossos atletas durante o Troféu José Finkel, o que ocasionará a diminuição das publicações sobre a situação complicada na qual se encontra a natação brasileira.

Percebemos que muitas pessoas estão com medo de se posicionarem abertamente e precisamos pensar como poderão mostrar o que pensam sem sofrerem retaliações e, por isso, salientamos novamente a importância de sua participação nesse movimento.

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Obs: Esse texto reflete uma opinião pessoal da direção da RSP Sports e não foi compartilhada com nossos assessorados, parceiros e clientes antes de sua publicação.

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